terça-feira, 27 de janeiro de 2015

CAMINHOS DA FLORESTA



Claramente dividido em duas partes distintas, Caminhos da Floresta tem uma primeira metade arrastada e tediosa, enquanto na segunda funciona muito melhor, ainda que, como um todo, o projeto pudesse dispensar ser um musical – o que é algo triste de se apontar em um filme adaptado de uma peça composta pelo sempre ótimo Stephen Sondheim.


Rob Marshall é quem assume a produção, é o terceiro musical que o cineasta leva às telonas, e o quinto filme para cinema que dirige na vida. Todos que vieram após o seu longa de estreia, o vencedor do Oscar Chicago (muito bom), demonstram que a academia – e eu mesmo - o alardeou cedo demais, e incrivelmente, este é o seu longa mais regular desde então, treze anos depois.


Vários dos personagens dos contos de fadas clássicos e seus arquétipos, como a Bruxa (Meryl Streep), se misturam em uma espécie de comédia de erros onde todos querem algo um do outro, e no processo de conseguir, acabam instaurando uma calamidade no reino onde vivem. Essa, claro, é a versão simples da trama, desinteressa a esta análise pormenores como os da maldição sob a qual vive o casal de padeiros interpretados por Emily Blunt e James Corden, por exemplo.


O que interessa é que é feita uma subversão das nossas expectativas que só é possível graças à tamanha popularidade das histórias abordadas. Essa, aliás, é a melhor característica de Caminhos da Floresta. Pois sim, é divertido descobrir que o sapato de Cinderela (Anna Kendrick) na verdade fica preso em uma armadilha de piche do Príncipe Encantado (Chris Pine), e que esse último também não é tão encantado afinal. O roteiro está repleto destes pequenos momentos de humor negro – “então os pássaros as cegaram” ou “Pelo tanto que eu sei, pode já estar morta” – que conferem também ao filme um caráter imprevisível, que justamente por estar mais latente na segunda metade, faz com que o projeto se desenrole com maior fluidez a partir de sua quebra de estrutura central. Momento em que também Marshall assume sem pudor algum a origem teatral de sua trama, com personagens entrando e saindo de cena como de uma coxia, dando em diálogos expositivos o destino de outras figuras que supostamente estariam em “cenários diferentes”. Não incomoda muito, apesar de existirem soluções fáceis para adaptar este tipo de linguagem para a do cinema. Quem sofre mesmo com isso é a Rapunzel (Mackenzie Mauzy), que simplesmente some em determinada altura pra nunca mais voltar a ser nem sequer mencionada.


Uma pena que para chegar na boa segunda metade, tenha-se que passar pela dolorosamente arrastada primeira. Sem quase nenhum momento inspirado – alguns, como a canção do Lobo (Jhonny Depp) e seu desfecho, até são vergonhosos – e músicas no mínimo imemoráveis, que soam todas como uma estranha repetição da primeira, Into the Woods, essa parte se preocupa durante muito tempo em configurar os personagens para a história, e lá se vão já uns quinze minutos quando fica claro que tudo aquilo trata-se apenas de uma introdução. Todos cantam, mas não há músicas. E falas repreensivelmente óbvias e condescendentes para com o espectador que são cantadas, ainda são falas repreensivelmente óbvias e condescendentes para com o espectador de qualquer maneira. Ao menos, se fossem ditas, soariam mais honestas, ainda que não menos terríveis de se ouvir. Não que ali também não existam alguns bons momentos, até citei um ou dois ali em cima, mas como bloco, é uma tortura.


Agarra-se então aos personagens, principalmente aos vividos por Blunt e Streep, com alguma ajuda do de Pine, proposital e divertidamente canastrão. As atrizes tem um timing cômico muito apurado, e Streep – que sim, está ótima, mas nada fora do comum para valer uma justa indicação ao Oscar – ainda tem a sorte de cantar as únicas canções de que é possível se lembrar – remete bastante a sua energia no excepcional A Morte Lhe Cai Bem. Last Midnight é realmente o único momento musical do longa que funciona como tal. Está bem, ok, Agony também é bem divertido pelo absurdo. Não é como se o longa-metragem fosse um desastre, mas, uma vez que suas músicas soam coisa alguma, o longa-metragem em si soa como uma boa ideia desperdiçada.



NOTA: 5/10 




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