sábado, 15 de fevereiro de 2014

CAÇADORES DE OBRAS-PRIMAS



Recentemente, por motivos diversos, me pediram para fazer um corte didático do filme Tudo Pelo Poder, para ser apresentado em uma aula de faculdade, reduzindo-o a no máximo quarenta minutos. Me encontrei então com uma tremenda dificuldade de retirar um segundo sequer de sua duração, já que cada uma de suas cenas me parecia necessária para o entendimento da próxima. Antes me tivessem entregado este outro filme dirigido e estrelado por George Clooney, Caçadores de Obras-Primas, do qual se poderia retirar muitos minutos com facilidade, sem garantir com isso, porém, que o resto se tornasse interessante.


O momento mais engraçado de Caçadores, talvez seja um totalmente não intencional, onde, ao colocar o título do filme ao lado do personagem de Bill Murray, Clooney, de certa forma, chame o colega de monumento, uma obra a ser preservada tal qual as que o grupo do título se dedicarão a recuperar durante o resto da história. Mau sinal então que este momento se encontre nos primeiros minutos de filme e que possivelmente tenha sido apenas uma casualidade, uma vez que mais adiante, o cineasta dedica-se a desperdiçar um elenco normalmente afiadíssimo, em piadas que se podem prever minutos antes de ganharem uma punch line - sem exagero nenhum, minutos (!). Para não falar naquelas que, além de previsíveis, se acham tão engraçadas que insistem em voltar ao roteiro: uma sobre a dicção francesa de um dos personagens é especialmente irritante neste ponto, surgindo em tela ao menos três vezes. Assim, um tom monótono é quase inevitável, e a insistência dos diálogos de martelarem a mensagem do texto, que a verdadeira preservação humana está nas vidas que se salvam durante um grande conflito, fazem deste filme não só um grande embaraço, como também um retrocesso na carreira de George Clooney enquanto diretor.


Com a proposta de resgatar obras de arte roubadas por Nazistas, o grupo liderado por Frank Stokes (Clooney), avança Europa a dentro investigando o desaparecimento de importantes peças. Pronto, esta é a sinopse, não há muito mais o que se acrescentar, já que pelo resto do filme a trama vai assumir um caráter episódico, pulando de cena em cena sem ritmo ou fluência alguma, fazendo-a parecer na verdade, um grande amontoado de anedotas com um tema e personagens em comuns. E muitas delas, aliás, repetem aquela mensagem de que já falei no outro parágrafo, não pelos diálogos, mas ilustrando-os com sequências inteiras: um soldado mirim nazista é poupado pelo personagem de Jean Duajardin, enquanto outro soldado nazista mais moço, é, enfim, também poupado, desta vez pelo personagem de Bob Balaban, só para mais tarde, enquanto o personagem de Bill Murray ouve uma mensagem gravada por sua família, acompanharmos médicos tentando salvar a vida de um soldado americano encontrado e trazido para o acampamento. OK! Não se pode dizer que o filme ao menos não tentou, com vontade, passar a sua moral: para se preservar o humano, tem que se preservar o ser humano! Não a toa que, analisando o longa-metragem de Clooney, esta já seja a segunda vez que repito isso.


Só não é uma completa perda de tempo assistir a Caçadores de Obras-Primas por dois motivos: o primeiro reside no fato que, apesar das infindáveis repetições, é um tema pouco ou quase nunca abordado por mídia alguma, e um interessantíssimo, aliás, o que só torna as críticas acima mais incisivas por denunciarem o desperdício então não só de um elenco formidável, como também de uma pauta absolutamente cativante. O segundo é sobre a direção de arte do filme, que recria com pouquíssimo auxílio da computação gráfica enormes quantidades de peças de arte, o que acaba salvando de certa forma parte do projeto, já que sabermos que verdadeiros ou não, aqueles objetos estavam ali contracenando com os atores, traz um peso a narrativa que seu diretor simplesmente é incapaz de conferir. E é curioso que se propondo a discutir a preservação da arte, o filme em questão se mostre um que seria facilmente deixado para trás em uma missão de resgate a obras importantes do cinema.


Observação: note que não consegui encontrar motivo para citar nomes importantes vistos aqui em tela como: Matt Damon, Cate Blanchett e John Goodman.


NOTA: 4/10





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