terça-feira, 22 de outubro de 2013

KICK-ASS 2


     Visualmente desinteressante, moralmente falho e apenas pontualmente divertido, Kick-Ass 2 mostra que seu diretor e roteirista, Jeff Wadlow, interpretou muito mal tanto as HQ's na qual se baseia, quanto o ótimo primeiro filme a que dá continuidade. O longa de 2010 se mostrava uma sátira divertida, que se equilibrava entre a violência gráfica e a ingenuidade alardeada pelo uso de cores básicas, mantendo sempre um tom cartunesco que nos impedia de julgar moralmente suas figuras, já que estas pareciam ironizar a si mesmas e suas deturpações. Aqui, este manto colorido é retirado, Wadlow investe em constantes câmeras de mão e em uma fotografia mais crua, e por fim, o seu roteiro leva tudo muito a sério, fazendo inclusive o que deveria ser engraçado, soar apenas, enfim, trágico.


     Dave (Aaron Taylor-Johnson), vendo todas as pessoas que inspirou ao se tornar Kick-Ass, decide largar a vida de colegial e, ao lado de Mindy (Chloë Grace Moretz), começa a treinar para voltar ao capuz do herói, enquanto isso, a própria Hit-Girl tem seus problemas com o pai adotivo, que a faz prometer não voltar a atuar como a pequena justiceira. Mas com o surgimento de um novo vilão (nem tão novo assim), o "Motherfucker" (Christopher Mintz-Plasse), os dois terão de se juntar a um grupo de novos mascarados, liderados pelo Coronel Listras e Estrelas (Jim Carrey), para combater o algoz e seus estereotipados capangas.


     Não que Kick-Ass 2 não ressuscite aqui e ali o espírito do primeiro filme, por exemplo, ao trazer pelo menos duas figuras claramente oriundas das páginas de uma HQ: O Coronel Listras de Jim Carrey e a Mother Russia, vivida pela novata Olga Kurkulina. Ambos protagonizam as melhores sequências do longa, embora o personagem de Carrey tenha pouco tempo de tela. Em outro momento, sem os trajes roxos de Hit-Girl, Mindy persegue capangas armados em uma van numa cena de ação criativa e funcional, sem contar a cena de sua vingança contra as patricinhas da escola, que ainda que pese um pouco na mão, traz com diversão a violência gratuita que fazia de cenas como a do micro-ondas gigante do primeiro filme, momentos tão memoráveis.


     Mas estes instantes de riso e descompromisso são pontuais, pois durante o resto da projeção, Wadlow parece querer transformar o filme em uma reflexão séria sobre assuntos pesados. Enquanto a morte de Big Daddy era bem explorada por Matthew Vaughn, trazendo sim, o peso daquela perda sem nunca perder o bom humor e o ritmo da narrativa, aqui, em dois momentos a morte de um personagem é tratada de forma dramática e resulta em uma freada no desenrolar da história. Fora isso, o diretor faz das cenas de luta algo quase incompreensível, com sua câmera de mão tentando extrair algum realismo de algo que deveria ser propositalmente irreal. Assim, perdido entre a natureza de seu projeto e o tom errôneo que quer conferir a ele, o cineasta acaba fazendo muitas de suas cenas soarem repreensíveis. E até mesmo a antes amável Hit-Girl, agora é apenas uma adolescente perturbada e fria, que comete atos condenáveis e dignos de uma psicopata.


     Sem as cores e o apuro visual de Vaughn, Kick-Ass 2 é apenas divertido, o clímax principalmente parece reconhecer suas origens, mas logo as esquece também. A frase "Isso não é uma história em quadrinhos!" é dita sem tom algum de piada em vários momentos do filme, quando na verdade, a grande piada sempre foi não precisar dizer isto.


P.S. - Há uma cena depois dos créditos.


NOTA: 5/10




    

Nenhum comentário:

Postar um comentário