segunda-feira, 1 de outubro de 2012

LOOPER - ASSASSINOS DO FUTURO


     No futuro será muito difícil se livrar de um corpo. Por isso os criminosos enviarão de volta no tempo, para datas e horários específicos, suas vítimas ainda vivas para que sejam executadas por loopers, assassinos contratados no passado para matar estas pessoas vindas do futuro. O pagamento é enviado junto com as vítimas que chegam amarradas e encapuzadas, cumprido seu serviço, o looper pega-o e livra-se do corpo. Porém, a profissão tem um prazo de validade de trinta anos, após isto o looper é capturado, enviado para o passado como uma das vítimas que executava e é assassinado por si mesmo no passado. Esta é a premissa de Looper - Assassinos do Futuro, que se mostra um thriller cativante e uma ficção científica convincente.



     Depois de não conseguir matar o seu eu do futuro, Joe (Joseph Gordon-Levitt) foge por sua vida da organização criminosa para quem prestava serviços, indo parar em uma fazenda onde vivem a solitária Sara (Emily Blunt) e seu filho de dez anos Cid (Pierce Gagnon). Enquanto isto, o Joe velho (Bruce Willis) procura por uma criança que se tornará o criminoso Rainmaker, responsável por assassinar sua esposa no futuro. 


     Se mostrando muito mais interessado nos conceitos que criou do que na ação exacerbada que poderia vir deles, o diretor Rian Johnson (que também assina sozinho o roteiro), acaba rejeitando nas poucas cenas de ação existentes a escola Michael Bay e Paul Grenngrass de filmagem e corte, que dita uma câmera frenética e milhares de cortes por minuto. Johnson prefere investir aqui, por exemplo, em um travelling lateral que acompanha toda a ação de um embate corpo a corpo de dois antagonistas em um espaço muito pequeno, cena esta que nas mãos de qualquer outro diretor com certeza teria no mínimo cinco planos é resolvido pelo cineasta de maneira econômica, elegante e acima de tudo, compreensível.


     Porém, com o passar do filme, o que antes parecia ser escolha estética do diretor acaba se revelando também uma espécie de homenagem muito sutil a um modo já esquecido de se fazer filmes, quando não era possível fazer câmeras voarem por cenários digitais em planos impossíveis. E assim como no exemplo citado acima, há outro plano em que Johnson opta por acompanhar toda a ação em um único take sem cortes, envolvendo o desfecho de uma ação que havia ficado no ar e dois personagens caindo de uma altura considerável. Do mesmo jeito, em outro momento de tensão, o diretor e seu fotógrafo Steve Yedlin captam o Joe velho, prestes a cometer um terrível erro, parado na soleira de uma porta silhuetado, como em velhos filmes de suspense da década de quarenta e cinquenta, tendo espaço inclusive para aquele reflexo de luz esperto que ilumina somente a faixa dos olhos do personagem, tornando sua presença mais ameaçadora através de um recurso que talvez em outra produção soasse deslocado.


     A economia de Johnson se estende também no uso de efeitos digitais, que aqui são restritos somente ao uso necessário. Assim, o diretor não perde tempo se orgulhando de planos aéreos das cidades futuristas ou com perseguições insanas com as motos voadoras que apresenta no começo da projeção. São pequenos detalhes que vão lhe concedendo características que o classificariam com um cineasta old school, como no jeito que investe em uma demorada cena numa lancheria no meio do nada que culmina num rápido tiroteio, no melhor estilo dos western. Aliás, neste ponto são inegáveis as homenagens feitas por Johnson ao gênero dos cowboys, seja na vestimenta dos bandidos com casacos longos e pretos, nos revólveres gigantes em coldres na cintura, na ambientação da maior parte do longa ser numa fazenda (fugindo da moda do futurista super urbano), na ideia de colocar o quartel general do vilão numa espécie de bordel ou mesmo na cena que acompanha um grupo de gângsteres entrando numa casa usando chapeis de aba longa e empunhando suas armas, num plano que remete diretamente a Era Uma Vez no Oeste. Criando inclusive um clímax que muito mais baseado no conceitual do que na ação em si, envolve dois pistoleiros e uma mãe e um filho indefesos num campo aberto.


     Aliás, no quesito conceito e ideias Johnson está de parabéns, pois note como é incomum se ressaltar hoje em dia a inventividade de algum criador, principalmente num tempo onde a originalidade anda tão escassa. E devo dizer que a sugestão de violência em certa cena envolvendo a versão futura de um looper e as consequências de uma tortura ficarão na minha memória por bastante tempo, tamanha sua criatividade e brutalidade conceitual. E haja coragem para qualquer diretor  hoje em dia parar um filme no meio de uma ação para fazer uma espécie de interlúdio. Zack Snyder ousou fazê-lo em Watchmen com a cena de Marte, Terrence Malick também no ano passado com A Árvore da Vida e a cena da gênesis do universo, agora aqui, mesmo que durando bem menos que estes dois exemplos, Johnson e seu montador Bob Ducsay interrompem o longa para mostrar uma realidade "alternativa", respeitando e confiando (assim como em muitos outros momentos) na inteligência de seu espectador para compreender a trama.


     Interpretando um tipo diferente do seu comum, Joseph Gordon-Levitt surge com lentes claras nos olhos (para que fiquem iguais aos de Bruce Willis), o que só nos ajuda a esquecermos de qualquer vestígio de outro papel seu e nos focarmos no seu Joe. Empregando um ar de forasteiro bondoso (o que remete ainda mais ao estilo do western), nosso protagonista é facilmente acolhido pelo público mesmo exercendo a profissão de matador, afinal sua introdução é trabalhada para que isto ocorra, já que o conhecemos narrando o filme e sendo a única figura humanizada nos primeiros minutos, todos os outros ou são completos babacas como Seth (Paul Dano) e Kid Blue (Noah Segan) ou bandidos frios e ameaçadores como Abe (Jeff Daniels). Em contrapartida, Bruce Willis se esforça para ser este mesmo Joe no futuro, que depois de passar por trinta anos de uma vida repleta de violência, medo e traumas, se tornou uma pessoa mais fria. Porém é precioso notar como o filme não procura retratar o velho Joe de Willis como um ser mau e impiedoso, lembrando o espectador que um dia ele já foi aquele Joe interpretado por Gordon-Levitt, então mesmo quando começa a cometer atos terríveis e de extrema crueldade, somos presenteados com um plano do personagem em choque, vomitando e chorando. Assim sentimos sua tridimensionalidade e até tentamos ficar do seu lado.


     E é de momentos como este e de conceitos cativantes como o dos mutantes (que acabam tendo uma participação importante na trama) que Looper se constrói um longa inspirado e criativo. Apostando na economia de recursos e na inteligência de seu espectador, o filme jamais deixa de ser um thriller violento e tenso mesmo concedendo boa parte de sua narrativa a humanização de seus personagens. Esperemos mais obras elogiáveis como esta deste promissor Rian Johnson.     


NOTA: 10/10

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