quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A HORA DO ESPANTO

     

     É sem demora. O público hoje em dia já está bem mais informado que na década de oitenta, e principalmente o público alvo deste remake de um bom (e apenas bom) filme "terrir" de 1985. Equilibrando bons e maus momentos, A Hora do Espanto (2011) na pior das hipóteses é uma boa, e cada vez mais rara, oportunidade de diversão.



     Charley Brewster (Anton Yelchin), um garoto popular de uma High School em Las Vegas, mora com a mãe, Jane (Toni Collette) e sustenta um namoro com a bela Amy (Imogen Poots). Mas Charley nem sempre foi esta pessoa, e quando um velho amigo chamado Ed Thompson (o sempre ótimo Christopher Mintz-Plasse) da época "nerd" de Charley, vem avisá-lo que seu visinho, Jerry Dandrige (Colin Farrell), é um vampiro, sua rotina dá uma cambalhota e torna-se sua a responsabilidade de garantir a segurança de seus entes queridos.


     Diferentemente do longa original, aqui o "vampirismo" de Jerry é revelado nos primeiros minutos do longa, deixando de lado qualquer suspense. Um erro? Eu não acho, pois empurrar demais uma revelação que já está no conhecimento do público, teria sido perda de tempo. Assim, é sem cerimônias que Ed conta a Charley sobre sua teoria, em um diálogo que ainda conta com uma boa piada sobre Crepúsculo, que num filme que trata os milenares sugadores de sangue nas regras mais tradicionais, era bem esperada. Responsável pelo texto, a roteirista Marti Noxom (sim, que alívio! É uma só!) constrói a primeira parte do longa de forma gradual e dosada, mas sem nunca deixar que seu público alvo se canse, algo que também é mérito da eficiente montagem e da direção correta de Craig Gillespie.


     O diretor, aliás, merece alguns elogios a mais já que consegue fugir de lugares comuns do gênero, como a aparição repentina de um personagem inofensivo (ou não) atrás do herói. Preferindo a tensão ao susto, Gillespie acerta ao manter o espectador sentado quieto na poltrona em momentos de total imersão devido ao suspense em cena. Destaques para as quase seguidas sequências onde Charley procura por uma garota na casa de Jerry, e a consequente escapada dos dois de lá. Lembrando em muito até os momentos de inspiração de Wes Craven nos dois primeiros filmes Pânico, principalmente a ótima cena no segundo filme do assassino mascarado, onde duas personagens têm que passar por cima do desacordado Ghostface para sair de um carro. Em contraponto, a insistência de Gillespie em inserir várias vezes durante o longa planos aéreos do bairro de Charley, é irritante tendo em vista que seu propósito (de mostrar o quão isolado é o local) já é percebido desde a primeira vez, bastariam mais uma ou duas destas tomadas (exagerando) para lembrar o espectador em momentos chave.


     Ainda sim esta primeira parte é eficiente em não só nos apresentar os personagens, mas fazer com que nos importemos com eles. Estabelece um bom clima e conduz com cuidado, e boas tiradas, o suspense crescente. Porém, o filme tem seu ritmo (não o tom) quebrado drasticamente depois de uma inusitada sequência em que Jerry decide não mais esconder de Jane sua verdadeira identidade. Agora sim, um erro? Infelizmente sim, pois a partir desta virada, o filme (que apesar de continuar divertido) cai em uma estrutura formuláica de perseguições e cenas de "como vamos acabar com ele?", retomando a boa linha com que começou somente em seus minutos finais, já no clímax.


     Mas se ao menos podemos salvar a boa cena de perseguição com os carros (que ainda traz uma participação mais do que especial) no quesito ação, pode-se também detoná-la por problemas e (agora sim) lugares comuns técnicos. Por exemplo: A iluminação dentro do carro onde estão os protagonistas em fuga, sugere uma fonte luz azulada vinda exatamente de cima de suas cabeças, nos fazendo acreditar que eles estão sem o teto do carro e sendo iluminados pelo luar, o que para quem acompanhou o plano sequência que precede este enquadramento, não faz sentido algum! Aliás, que fique registrado, embora filmado em 3D, o filme claramente não foi planejado para tal, já que sua fotografia escura e enquadramentos de pouca profundidade de campo inutilizam a tecnologia, deixando-nos a mercê dos comuns objetos que saltam na tela e te esbofeteiam. Recurso que serve em muitas vezes para divertir um público mais descompromissado, aqui ofende a quem realmente aprecia a sétima arte e sabe como um jato de sangue voando na sua direção pode ser prejudicial para a capacidade de imersão de um roteiro.


     Em compensação temos a raridade que é um elenco funcional em um filme do tipo. Anton Yelchin, que vem ganhando cada vez mais destaque em seus papéis (e desde seu personagem em Star Trek já torcia para que ele ganhasse um de protagonista), interpreta Charley com o desconforto necessário de alguém que vive uma vida que não é sua ao mesmo tempo em que sustenta o saudosismo de tempos melhores. A cena que mostra o garoto revendo vídeos antigos ilustra com precisão estes sentimentos. Enquanto isso, Imogen Poots se mostra mais do que uma donzela em perigo interpretando Amy, nos fazendo gostar de um personagem que normalmente seria dispensável. Já Toni Collette (sempre ótima), repete o seu papel de mãe de um filho diferente (ou com quem acontecem coisas diferentes) que já vimos antes em O Sexto Sentido, Um Grande Garoto e Pequena Miss Sunshine (para não citar a problemática mãe de United States of Tara). E rejuvenescendo o personagem a quem dá vida, David Tennant encarna com humor o ilusionista e perito em criaturas das trevas Peter Vincent, caricatural, mas sem cair em algum over que incomode.


     Mas não é só Tennant que parece se divertir com seu papel, pois há um outro ator ai que parece estar a vontade com seu personagem. Este ator é Colin Farrell, sempre subestimado, acabo achando que Farrell é muito injustiçado na maioria das vezes. É verdade que ele é um ator limitado, com um campo de segurança bem determinado, mas ainda sim quando dentro deste ele normalmente se sai muito bem. Exemplo é seu personagem no recente Quero Matar meu Chefe, onde ele é uma das únicas coisas boas do longa. Ou seus personagens em Por um fio, Minority Report e Na mira do chefe. E seguindo esta linha de bons momentos, Farrell entrega aqui um Jerry extremamente leve. Totalmente dentro de sua área de atuação, o ator encarna um vampiro canastrão e bem humorado, que com certeza vai divertir mais do que assustar. O que pelo menos neste filme é um efeito proposital e não acidental.


     Muito graças a este elenco, o longa acaba se tornando carismático, quase que escondendo os erros cometidos pela falta de autoconfiança do diretor e da roteirista, que se tivessem acreditado em sua fórmula inicial um pouco mais, talvez tivessem entregue um longa até melhor que o original. Mas o que acaba é que temos um pequeno e pouco pretensioso filme de vampiro, feito para se ver num sábado à noite comendo pipocas, pronto para ser esquecido assim que chegar aos créditos. O que é uma pena, já que acima de tudo, este novo A Hora do Espanto é muito divertido.

NOTA: 7/10    

Um comentário:

  1. Gostei dessa refilmagem mais do que o original, que assisti há uns meses atrás. Acho que a grande diferença foi o elenco, que é muito mais carismático.

    http://brazilianmovieguy.blogspot.com/2011/10/hora-do-espanto.html

    Abraço,
    Thomás

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