segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PLANETA DOS MACACOS - A ORIGEM

    

     Em 1968, cinemas em todo o mundo exibiram pela primeira vez o ator Charlton Heston gritar em uma praia deserta para as ruínas da estatua da liberdade. Esta era uma das maiores plot twist (o famoso final surpreendente) de toda a história do cinema. Eis que, muitos anos depois, chega aos cinemas Planeta dos Macacos: A origem, tentando contar os fatos que levaram aos acontecimentos do filme clássico. E mesmo não estando destinado a se tornar um marco como seu antecessor, o filme é com certeza uma agradável surpresa em meio aos blockbusters, não caindo na armadilha de deixar solta no set, toda a macacada (perdão do trocadilho).



     O filme começa com a captura de "Olhos brilhantes", uma chimpanzé que irá para o laboratório onde trabalha Will Rodman (James Franco), que testa nos animais uma vacina com potencial de curar o Alzheimer. E quando a macaca resolve surtar bem no dia da apresentação do medicamento, Will descobre que a mesma deu luz a um filhote, que o jovem cientista logo adota. O primata cresce e se torna um membro da família, demonstrando sempre uma aptidão muito maior do qualquer outro de sua espécie, fazendo Will acreditar que ele herdou os genes modificados da mãe. Enquanto isso, ele continua testando em segredo, no seu próprio pai, Charles (John Lithgow), a vacina, que se mostra eficaz contra a doença. Mas depois de um incidente envolvendo o chimpanzé, que recebe o nome de Caesar (Andy Serkis), o animal vai parar em um abrigo onde passa a sofrer preso em uma pequena jaula e com os maus tratos que recebe do jovem tratador de animais, Dodge (Tom Felton). 


     O Roteiro de Amanda Silver e Rick Jaffa logo tira James Franco e coloca Caesar como o protagonista, o que torna a proposta do filme ainda mais arriscada. Afinal, um filme cuja proposta inicial é contar os eventos que levaram os macacos a dominar o planeta, já tem muitos motivos para se preocupar sem ter que, ainda por cima, garantir que seu protagonista seja convincente. E a Weta -Empresa responsável por inúmeros vencedores do Oscar de efeitos especiais- está mais uma vez de parabéns! A última coisa com que nos preocupamos durante o filme, é se o chimpanzé é de verdade ou não, pois em certos momentos é de se duvidar que o animal seja feito por animação. Assim como todos os outros macacos que vemos durante o filme, igualmente convincentes. Ponto para a empresa que conseguiu dar não só vida a macacada, mas também alma, já que seus olhares (sempre um ponto fraco de qualquer animação) possuem vida e nunca parecem artificiais. 


     Mas Caesar não foi criado do nada. Assim como aconteceu ao Gollum de O Senhor dos Anéis, ao King Kong e aos Navi de Avatar, o macaco foi criado em cima da captação dos movimentos corporais e faciais de um ator. E não para menos, foi escolhido para o papel, Andy Serkis, que deu vida a Gollum e ao Gorila gigante também, sendo ele a escolha mais óbvia para interpretar Caesar, não só por já estar acostumado a usar a roupa especial para CGI ou por já ter interpretado um macaco antes com esta mesma roupa, mas por que o ator simplesmente tem um talento natural, que é o principal motivo de o chimpanzé  realmente nos convencer a comprá-lo como nosso herói. Sendo assim, Serkis é de longe o destaque do elenco.


     Até porque, pouco sobra para James Franco fazer com seu Will, que mesmo não recebendo especial desenvolvimento, acaba por se tornar um personagem agradável nas mãos do ator. Seu relacionamento com o pai é com certeza o ponto alto de seu personagem que sofre ao tentar lidar com a doença do mesmo, interpretado de forma tocante e com química por John Lithgow, o que torna a relação dos dois eficiente e crível, sendo o melhor da ala humana do filme Já que a coitada da Freida Pinto, que interpreta o desnecessário interesse romântico de Will, Caroline, pouco tem a fazer e menos ainda o que dizer, deixando a atriz "parada" em tela durante várias cenas. 


     E com certeza a exploração de personagens secundários não é a especialidade dos roteiristas, que dão a Tyler Labine que interpreta o tratador de animais do laboratório, Robert Franklin, aparições especiais só quando este é necessário para explicar algo na trama, assim como Brian Cox, que passa despercebido com seu John Landon, responsável pelo abrigo onde Caesar é posto. Assim resta ao Draco Malf... Ops! Tom Felton tentar fazer algo com seu razoavelmente bem usado Dodge, que não difere em quase nada do personagem do ator na saga do bruxinho. E é uma pena que os mesmos roteiristas se vejam tão sem imaginação para inventarem o motivo da raiva dos macacos, que acaba caindo no estereótipo do oprimido que se vira contra seu opressor, que aqui é claramente representado pelo personagem de Felton. Há também um vizinho chato com quem tudo acontece, que mais adiante tem alguma importância, mas que durante todo o resto é desperdiçado numa fracassada tentativa de criar um alívio cômico. 


     Mas se o roteiro falha, a direção de Rupert Wyatt ao menos é acertada, não se destacando em momento algum, mas ainda assim, contando a história de maneira correta sem investir em nada fora do comum, deixando que a história e seu incrível protagonista sejam os astros principais. E isso só soma pontos quando se vê que a montagem é igualmente boa, dando um ritmo tenso e urgente ao filme. Pena é que a trilha de Patrick Doyle (Aqui estranhamente longe dos habituais violinos) sirva apenas de pano de fundo, não tendo nada de memorável. 


     Mas, para os fãs do filme original que se tornou um clássico da ficção científica, o filme pode ter algo mais a oferecer, já que os que ficarem ligados na telona, perceberão em muitas cenas, referências claras. Não só homenagens como no momento em que vemos Caesar montar uma maquete da estátua da liberdade ou no filme com Charlton Heston que está passando em uma Tv em dado momento, mas também elementos da trama do longa original, como a nave com destino a Marte que aparece de relance em uma notícia. Assim como o nome da macaca "Olhos Brilhantes". Portanto, o filme torna-se uma experiência muito mais agradável quando se pode ficar procurando por estes Easter Eggs durante a projeção. E ponto para o filme que não cai na habitual armadilha de deixar que o próprio se torne dependente destas referências, tendo uma trama nova a contar e que se sustenta por si só.


     Visualmente belo, divertido de se acompanhar e bem atuado na medida do possível, é uma pena que haja alguma falta de inspiração neste longa, que apesar de manter um ritmo impecável durante a maior parte de sua duração, resolve logo após o bem dirigido clímax na ponte de São Francisco, terminar de forma abrupta e decepcionante, deixando um gostinho de quero mais que na verdade podia ter sido saciado ali mesmo.

P.S. Tem uma cena durante os créditos, fique para conferir e entender um pouco mais.


NOTA: 7/10       

2 comentários:

  1. Andy Serkis realmente matou a pau nesse filme. Uma pena que o Oscar ainda não considere atuações como a dele para suas categorias.

    O filme é muito bom. Me surpreendi mais foi com a direção de Rupert Wyatt, um cara sem muitos filmes no currículo e comanda Planeta dos Macacos (um filme com orçamento quase na casa dos 100 milhões) de maneira inspiradíssima.

    (Não sei se alguém vai ler esse comentário, então: SPOILER ALERT)

    O último plano do filme (que mostra Caesar no topo da árvore com a cidade ao fundo, mas logo "abaixo") é espetacular, mostrando que Caesar virou algo superior ao homem. Achei fascinante.

    Teve outros planos que achei belíssimos, mas esse último me deixou de queixo caído.

    Enfim, um ótimo filme.

    http://brazilianmovieguy.blogspot.com/2011/08/planeta-dos-macacos-origem.html

    Abraço,
    Thomás

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  2. O ator britânico Tom Felton, que interpretou Draco Malfoy na série Harry Potter, fará participação na terceira temporada da série The Flash. Recentemente, Tom Felton apareceu no filme Risen, que é uma espécie de sequela do "Paixão de Cristo". Eu não sou um fã deste gênero de filme, mas eu gostei da perspectiva ateísta com uma estrutura narrativa realizada da maneira mais respeitosa, honesta e real. Vale a pena vê-lo como ele é uma adaptação do que acontece depois que Jesus ressuscita.

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